domingo, 17 de novembro de 2013

Você conhece a história dos 7 Povos das Missões?

Referência: blog historiacomgosto.blogspot.com.br - Missões Jesuíticas
I - As Missões Jesuíticas no sul do Brasil

Igreja de São Miguel das Missões
Não se pode estudar a história do Brasil ou os modelos sociais de vida em comunidade, em qualquer lugar do mundo, sem se deter para estudar o modelo implantado nas Reduções Jesuíticas, no período entre 1550 e 1750. Durante esse tempo, cerca de hum milhão de indígenas, de alguma forma viveram sob a orientação espiritual dos Padres Jesuítas. Além da convivência fraterna, trabalho comunitário, e divisão de bens, eles viveram a experiencia da evangelização, o aprendizado de artes e ofício, e a prática da agricultura e pecuária entre outros. Entretanto, essa experiencia humanística se chocou diretamente com os objetivos imediatos dos colonizadores. Esses, almejavam o enriquecimento com a exploração das riquezas da nova terra e suportado pelo trabalho escravo dos indígenas. Como sempre se repete na história, a corda arrebentou do lado mais fraco.

Os Povos Guaranis 

Foto do site www.tp1.com.br, 
portal de noticias do sudoeste de MS
A partir de um processo de migração iniciado na região amazônica e na região litorânea do atlântico, os povos guaranis ocuparam vasto território nas regiões contíguas da bacia do Prata.
No início do século XVI, época dos primeiros contatos, a população guarani provavelmente chegava ao número de 1.500.000 a 2.000.000 de pessoas. Em 1537, Gonzalo de Mendonça chegou ao Paraguai pelo atual território do sul do Brasil e, em seu retorno, fez contato com um grupo guarani, fundando Assunção que, séculos depois, se tornaria a capital do Paraguai.
Na medida em que avançavam continente adentro, as expedições de conquista espanholas encontraram diferentes populações guaranis em territórios aos quais os espanhóis passaram a chamar de províncias. Essas províncias abarcavam uma vasta área, que ia da costa ao sul da cidade de São Vicente, no Brasil, até a margem direita do Rio Paraguai e desde o sul do Rio Paranapanema e do grande Pantanalou lagoa dos Xaraies,até as Ilhas do Delta junto da atual cidade de Buenos Aires. (fonte Wikipedia)
Para o povo guarani o solo era sagrado. Ele era considerado uma transformação de seus antepassados, que ao morrerem se convertiam em terra. Essa apego, era um dos principais obstáculos encontrados pelos jesuítas, ao procurarem convencer numerosas tribos dispersas a se reunirem em um mesma redução.

Os guaranis como filhos da natureza não se preocupavam com o dia de amanhã. Eles não eram dotados de espírito criativo. Caracterizavam-se por uma certa irresponsabilidade e volubilidade. O povo guarani é descrito como um povo guerreiro, antropófago, em casos de vitória bélica e de vingança e, apesar disso, prendado, de índole dócil e acolhedora. A imolação de um guerreiro valente e hostil era revestida de um sinistro e monstruoso ritual.
(ref: Dom Estanislau Krautz)

Havia muitos escritores e poderosos que afirmavam que esses indígenas não eram pessoas humanas. O Papa Paulo III, em 1537, mediante a Bula Apostólica, Veritas Ipsa, interveio com firmeza em favor da humanidade dos povos indígenas.

O modelo reducional

Existem opiniões divergentes quanto a origem do modelo de organização reducional. Alguns historiadores comoSerafim Leite se fundamentam nas experiências das aldeias brasileiras, enquanto que os seguidores de Pablo Hernandez recorrem às doutrinas espanholas implantadas em Juli, no Peru. Rabuske argumenta que o modelo inicial das reduções se inspirou nas doutrinas de Juli e que se orientou pelas diretrizes emanadas dos concílios limenses, que definiram a organização eclesiástica da América espanhola.

Maquete do modelo das reduções
No Brasil a catequese missionária se iniciou no período da colonização, primeiramente com os franciscanos que faziam o agrupamento em aldeias com a finalidade de fixar os ensinamentos e posteriormente com os jesuítas que tinham também a preocupação de proteger os índios do avanço das Bandeiras. Logicamente que a catequese nas colônias seguia o ideal de evangelização mas tinha que atender também os interesses e diretrizes dos reinos aos quais estavam ligados. Foi assim que no Paraguay o modelo de agrupamento Missionário foi fortemente incentivado, devido a preocupação dos espanhóis de conter os avanços portugueses. Ele se iniciou em Assunção e logo se espalhou para as regiões do Rio Grande do Sul e Paraná que na época pertenciam ao Governo Espanhol. No Brasil, a caça aos índios para que trabalhassem como escravos foi fortemente aumentado no período das bandeiras.
II - Reduções - Primeiro Ciclo (1609 a 1641)
No Paraguai, os franciscanos foram os primeiros organizadores de evangelizações coletivas, no periodo entre 1580 e 1615. Eles fundaram quatorze povos, e acompanhavam dez aldeias, em fase prévia de constituir-se em reduções. Frei Bolanos e Frei Alonso Buonaventura permaneceram na área até 1589, quando lhes sucederam os padres Ortegas e Fields vindos da província Jesuítica no Brasil.

No Brasil, os jesuítas vinham formando Aldeamentos de indígenas, com o objetivo de evangelização, desde 1549. 

Desde o início, apesar de na região espanhola haver uma legislação contrária, ocorria violento choque entre a corrente humanitária, representada pelos missionários indigenistas, e a corrente mercantilista dos escravagistas colonizadores portugueses e espanhóis.

II.1 - Padre Roque Gonzalez 

Padre Roque Gonzalez
Padre Roque Gonzalez, nasceu em Assunção, Paraguai em 1576, filho de Bartolomeu Gonzalez e Maria de Santa Cruz. Desde a infância, Roque sentia-se chamado ao sacerdócio. Desejava ser missionário entre os indígenas. Em torno de 1598 foi ordenado presbítero. Em 1609 pediu permissão para entrar na Companhia de Jesus, a fim de poder dedicar toda sua vida à missão entre os índios. Após trabalhar com os belicosos guaicurus que ameaçavam destruir Assunção, em 1611 partiu para o sul do Paraguai, a um povo em formação: Santo Inácio Guaçu. Obteve preciosas informações com os padres franciscanos frei Bolano.

Padre Roque valorizou as sementes do evangelho já presentes nas tradições culturais dos guaranis tais como vida e índole comunitária, usufruto coletivo de todos os bens, trabalho conjunto, uso da língua indígena e adoração de Tupã, um único Deus. Preservou o caráter místico, lúdico e festivo da religião: o ritual, danças, encenações, festas, procissões, competições qe enchiam os dias as semanas e o ano todo, muito mais que os antigos rituais noturnos nas aldeias e florestas. 

Empenhou-se incansavelmente pela superação do vício da embriaguez, tanto em voga entre os indígenas. Estimulou a introdução ao trabalho em grupo, implantou também o cultivo de artes e ofícios. 

Por sua ação sistemática e persistente Padre Roque consolidou o sistema reducional. Transformou Santo Inácio Guaçu em redução modelo de todas as reduções jesuíticas.

II.2 - Primeiras Reduções

Na primeira etapa histórica, as reduções começaram a expandir-se em quatro áreas geográficas:
- Bacia do rio Paraná
- Região do Guaíra entre os rios Paraná e Paranapanema
- Terra dos Intantines
- Bacia do Rio Uruguai

Cruz Missioneira
A partir de 1619 o Padre Roque foi incumbido pelo seu superior de fundar novas reduções na bacia do Uruguai. Em 08/12/1619 fundou a redução de Nossa Senhora da Conceição (Concepcion de la Sierra). No dia 03 de maio de 1626, após várias tentativas de exploração e muita negociação com o cacique local, Padre Roque teve a graça de implantar a cruz missioneira no atual Rio Grande do Sul. 

Fundou a redução de São Nicolau. Aí celebrou a primeira missa registrada nesse estado. Em 1627 partiu para organizar o povo de Nossa senhora da Candelária, á margem esquerda do rio Ijuí. 

No mesmo ano fundou a redução de São Francisco Xavier nas proximidades da atual cidade de São Borja. Depois de outras fundações, no dia 01 de novembro de 1628, Padre Roque acompanhado pelos Padres Afonso Rodrigues, instalou sua derradeira redução, em Caaró. Dedicou-a a "Todos os Santos". 

No dia 15/11 de 1628 o Padre Roque foi impiedosamente massacrado por indígenas não cristãos, emissários do poderoso cacique Nheçu. Com esse protomártir tombou também o Padre Alfonso Rodrigues. Dois dias mais tarde foi trucidado com requintes de crueldade, o Padre João Castilho em Assunção do Ijuí. 

Os primeiros mártires da igreja no Brasil são os Padres Roque, Afonso e João. Eles foram beatificados por Pio XI em 28/01/34 e canonizados por João Paulo II em 16/05/1998. Prodigiosamente, a relíquia do coração de São Roque está preservada até os dias de hoje. Está guardada na Igreja do Cristo Rei no colégio Jesuíta em Assunção. (ref: Dom Estanislau)

II.3 - As Missões Jesuítas no Guairá

As primeiras missões Jesuítas na atual área do Brasil foram localizadas no Paraná, a beira do Rio Paranapanema.

No início dos anos de 1600, os portugueses aproveitando-se do período da "união dinástica aeque principaliter" entre Portugal e Espanha, atravessavam a linha de Tordesilhas tanto em busca de ouro como de escravos, para as plantações de cana de açúcar da Capitania de São Vicente. Os índios guaranis por sua vez usaram a região do Guayrá, que era muito densa em florestas e selvas, para fugirem dos comerciantes de escravos portugueses e também dos "encomendeiros" do Paraguai.

Fonte: Wikipedia - autor gráfico: Breno Klamas

Em 1558, passaram a explorar o Guayrá, os padres jesuítas Manuel Ortega e Thomas Fields, que eram conhecedores da lingua Tupi, semelhante ao Guarani, pois já haviam missionado anteriormente no Brasil, mas logo depois os jesuítas foram direcionados às áreas mais remotas de Assunção. 

Somente em 1608, o governador do Paraguai, Hernando Arias de Saavedra, recebeu ordens do rei para direcionar os jesuítas para o Paraná, Guayrá e para a região dos Guaicirus. 
Em 1610, os padres jesuítas José Cataldino e Simon Mazet fundaram as primeiras reduções. A de Nuestra Señora de Loreto nas margens do Paranapanema, e San Ignácio Mini, na área chamada Itambaracá.
Em 1612 chagaram ao Guayrá os padres Antonio Ruyz de Montoya e Antonio de Moranta. Em 1622, Ruiz de Montoya foi nomeado Superior da missão de Guayrá. 
No período entre 1622 e 1628, os jesuítas fundaram mais de onze reduções no Guayrá.

II.4 - Confronto com Bandeirantes e retirada dos povos indígenas

Domingos Jorge Velho
A partir de 1627 começaram os ataques bandeirantes em busca de indígenas. Inicialmente fora das reduções, e a partir de 1629, eles começaram a atacar também as reduções do Guairá. Em 1628, os Bandeirantes Antônio Raposo Tavares e Manoel Preto construíram um forte na margem esquerda do Tibagi. 

Em 1631, os indígenas que sobreviveram aos constantes ataques, ficaram concentrados nas duas únicas reduções restantes intactas (Loreto e San Ignacio Mini). Para fugir à caçada dos Bandeirantes, os cerca de 12 mil indígenas e 700 embarcações, foram conduzidos pelo padre Antonio Ruyz de Montoya, rio abaixo pelo Paranapanema e, em seguida, pelo Paraná. Perto das Sete Quedas, "encomenderos" da Ciudad Real tentaram impedir a expedição. Os índios passaram as quedas por terra e jogaram na água suas embarcações, perdendo a maioria delas. Ali se uniram a eles cerca de 2000 Guaranis provenientes das reduções de Tayaoba guiados pelo Padre Pedro Espinosa. Após grandes dificuldades e divididos em grupos que avançaram por terra e pelo rio, conseguiram atingir as reduções de Natividad del Acaray y Santa María del Iguazú, onde receberam ajuda para continuar pelo o Paraná Em março de 1632 refundaram San Ignacio Mini e Nossa Senhora do Loreto nas margens do córrego Yabebyry. Apenas 4.000 Guaranis conseguiram, chegar. Essa fuga, uma das maiores da história, ficou conhecida como "Êxodo Guayrenho".

Os Bandeirantes atacaram em 1631 e 1632 a Ciudad Real del Ciudad Guayrá e Villa Rica do Espírito Santo. Em 1632 conquistaram a Villa Rica e finalmente em 1638 a Ciudad Real Guayrá foi arrasada terminando com o domínio espanhol no Guayrá.

O avanço sistemático dos Bandeirantes pelo leste e a passividade das autoridades espanholas - pois tentavam evitar conflitos dentro da “união dinástica aeque principaliter” – obrigou os espanhóis do Guayrá a recuar para a margem direita do rio Paraná. (ref: Wikipedia)

II.5 - Batalha do Mbororé

Em 1640, o próprio Papa Urbano VIII decretou a excomunhão dos caçadores de índios. O documento que formalizava a condenação foi trazido pelo Padre Diáz Tano. 

Uma Bandeira enorme foi preparada em São Paulo para resgatar prisioneiros de ataques anteriores e vingá-los com a destruição total das missões. No entanto, um jesuíta, padre Diaz Tano, que estava no Rio de Janeiro por esse tempo, sabedor da bandeira, mandou emissário dar notícia dela aos missioneiros. Assim tiveram os padres das Missões tempo para se fortificarem.

Para enfrentar os Bandeirantes preparou-se um exercito de 4.000 índios armados. A bandeira se compunha de trezentos portugueses e dois mil e quinhentos índios infiéis, frecheiros. O comandante da Bandeira era Jerônimo Pedroso de Barros. Os paulistas faziam vasta presa de índios pelo caminho.

Após um combate feroz, em 28 de março de 1641, os bandeirantes se puseram em fuga pelas matas e serras íngremes da região. Os bandeirantes, na fuga, tiveram que enfrentar o ataque de tigres, falta de alimentos e todo tipo de doenças tropicais das florestas.

Posteriormente, até os anos de 1650, todas as outras novas tentativas de ataque dos bandeirantes foram rechaçadas.

II.6 - O fim do primeiro ciclo missioneiro

Com os ataques dos bandeirantes, e a destruição quase completa das Missões do Guaíra (Paraná), Tape (Rio Grande do Sul) e Itatim (Mato Grosso do Sul) o sonho das missões se desvaneceu com a triste constatação do genocídio praticado contra os povos indígenas. Houve uma dispersão generalizada e sobreviveram praticamente a população indígena da área missioneira da bacia do Paraná e de Corrientes, na Argentina. Em 1647 os números dos índios reduzidos apontam para em torno de vinte e oito mil e setecentos.

III - Segundo ciclo - O auge, "Os Trinta Povos" (1682 a 1767). 
Cerca de trinta anos depois da destruição das missões na região do Guaíra, Itatim e Tape, grupos de padres e irmão jesuítas se uniram para reavivar o projeto missioneiro. No fundo eles sonhavam em construir uma réplica das comunidades primitivas do início do Cristianismo onde tudo era partilhado. Esse foi o projeto de vida para as comunidades cristãs guaranis. Os trinta povos se situavam da seguinte forma:

a) No Paraguai atual tivemos: Santo Inácio-Guaçu, Cosme e Damião, Trindade, Jesus, Santa Rosa, Encarnação; São Tiago Apóstolo; Nossa Senhora da Fé.

b) Na Argentina atual: Santo Inácio-mini, Sant´Ana, Loreto, Candelária, Corpus Christi, Conceição; São Carlos, São José, Apóstolos, Santa Maria Maior; São Xavier, Mártires; São Tomé; Santa Cruz e Japeju.

c) No Rio Grande do Sul: São Francisco de Borja, São Nicolau Bispo, São Luiz Gonzaga, São Lourenço Mártir, São Miguel Arcanjo, São João Batista e Santo Ângelo Custódio.

Ruínas de San Ignácio Mini - Argentina 

IV - O Tratado de Madrid

Portugal sempre quis ter o domínio das terras fronteiriças ao sul do Brasil. A Espanha por sua vez era incomodada pela posse por Portugal da colonia de sacramento, por onde os portugueses faziam contrabando de mercadoria vindo da área espanhola sem pagar impostos ao governo espanhol. Por isso foi realizado um acordo entre os dois reinos realizando a troca da colonia de sacramento pelas áreas hoje correspondendo a santa catarina, rio grande do sul e parana. Esse tratado chamado de Tratado de Madrid teve um profundo impacto na vida das Missões e dos índios guaranis.

Os espanhóis que até então consideravam os índios guaranis como vassalos do Rei e eles próprios incentivaram as missões jesuíticas, não souberam ou não quiseram, levar em conta o bem estar e sobrevivência do povo que muitas vezes tinham guerreado pela Espanha. Tratava-se na realidade de 15 padres e cerca de 30.000 índios que deveriam ser transladados.

Os portugueses por sua vez não davam proteção aos índios e não os consideravam como personagens importantes na história. O que os portugueses queriam era as terras, o gado que tinha sido introduzido pelos jesuítas e agora abundavam na região e por último ainda pensavam que havia minas de ouro por ali.

O ambiente político de Portugal - Marques de Pombal e os Jesuítas

Marques de Pombal
O Marquês de Pombal após o terremoto que destruiu a cidade de Lisboa, adquiriu grandes poderes devido a sua atuação firme na organização da força tarefa de reconstrução da cidade. Devido a isso tornou-se o homem forte do Rei. Pombal, com uma visão de evolucionismo, decidiu que Portugal deveria se integrar aos movimentos que apareciam em toda Europa do Iluminismo. Entre outras coisas Pombal atribuiu a Igreja e aos Jesuítas a responsabilidade por Portugal ser atrasado pois ele dizia que a religião levava às trevas. Outro motivo para a perseguição de Pombal, era que na realidade os Jesuítas estavam fazendo um excelente trabalho de catequização e com influencia crescente entre os índios e com reputação mundial, já se falava no Império (REINO) jesuíta nas Américas quando se referiam as Missões. Por isso Pombal passou a perseguir os Jesuítas e acabar com a ordem era sua obsessão. Após um atentado ao Rei em que Pombal atribuiu-o, a influencia dos Jesuítas, ele convenceu o Rei a expulsá-los de todo domínio português, inclusive o Brasil. No dia 16 de setembro de 1659 os inacianos foram expulsos de Portugal

O ambiente Político da Europa - Voltaire, Montesquieu

Um misto de admiração e revolta cercava o trabalho das missões nas Américas. De forma geral, o que os europeus queriam era caracterizar a superioridade do homem branco civilizado, e, ao mesmo tempo usufruir das riquezas das colonias usando para isso de qualquer método. Os europeus quiseram considerar os índios como não humanos, selvagens e escravos. A Evangelização patrocinada pelos reis na realidade servia aos propósitos colonialistas da coroa. Era mais fácil escravizar índios "pacificados" ou evangelizados, que índios selvagens e guerreiros. Quando os Jesuítas passaram a entender as perspectivas dos povos indígenas e dentro desse ambiente evangelizá-los, defendê-los e constituir povos trabalhadores e produtivos passaram a entrar em conflito direto com os colonos e os conquistadores. Voltaire no seu livro o Cândido ironiza as missões jesuíticas e sua organização se referenciando a todo o momento, aos modos bárbaros dos índios e criticando os jesuítas por defende-los dos ataques bárbaros dos bandeirantes e causando a morte de pessoas da sua mesma raça, para defender os selvagens.

Data e prazos do Tratado

Foi nesse ambiente, e sem que muita gente participasse, que em 13 de janeiro de 1750, os dois reinos assinaram o "Tratado de Madrid" transferindo a colonia de Sacramento para os espanhóis e toda a região do Tape incluindo a região onde estavam os sete povos, na margem direita do rio Uruguai, para o reino de Portugal.

Foi dado o prazo de seis meses para que os povos guaranis, que compunham os sete povos, abandonassem toda a sua moradia e criação e se transferissem para o outro lado da margem onde começava o reino espanhol. Lembramos que a população das missões girava em torno de trinta mil índios e cerca de 15 padres.

V - Os Sete povos das Missões

Das trinta missões que faziam parte do complexo da bacia do prata, pelo Tratado de Madrid, sete passaram a fazer parte do território brasileiro e receberam a ordem do governo português de desocupação imediata das áreas habitadas e sua transferência para o lado do rio pertencente as terras da Espanha.
As sete missões na sua ordem de fundação foram:
a) São Francisco de Borja (1682) Pe. Francisco Garcia
b) São Nicolau (1687) - Pe. Roque Gonzalez de Santa Cruz(* 1626)
c) São Luiz Gonzaga (1687) Pe. Miguel fernandez
d) São Miguel Arcanjo (1687)* - Pe Cristovão de Mendoza (1632?)
e) São Lourenço Martir (1690) - Pe Bernardo de La Vega
f) São João Batirsta (1697) - Pe. Antonio Sepp
g) Santo Ângelo Custódio (1706) - Pe. Diogo Haze

Das sete missões, o que resta para se ver hoje são as ruínas bem preservadas da São Miguel Arcanjo, as ruínas de São João Batista e a cidade de Santo Ângelo, com sua réplica da Igreja de São Miguel. Mostramos abaixo um pouco do estado atual:

V.1 - São Miguel Arcanjo

As ruínas mais importantes, relacionadas aos Sete Povos, são as de São Miguel Arcanjo. Declarada "Patrimônio da Humanidade" pela Unesco, ela conserva praticamente intacta a parte frontal e os vão internos da Igreja, que era o ponto de referência da comunidade.


cruz missioneira
igreja de São Miguel das Missões

interior da Igreja de São Miguel
Como mostrado acima, o povo de São Miguel Arcanjo tem sua origem numa aldeia fundada ainda no primeiro ciclo, em 1632, pelo padre Cristóvão de Mendonza. Foram forçados a migrar para a margem direita do rio Uruguai. Em 1687, São Miguel não retornou para o local onde estivera anteriormente, mas para onde hoje se situa, na cidade de São Miguel das Missões. Esta redução se diferenciou das outras não somente administrativamente, mas pela rigidez do traçado imposto nas suas instalações. A igreja foi construída majestosamente como um símbolo de fé, poder e grandeza e, como tal, foi edificada para resistir inclusive ao fogo.

Vista lateral da Igreja
Museu nas ruínas de São Miguel
Museu de São Miguel Arcanjo

Projetado por Lúcio Costa em 1938, o museu das missões foi construído por Lucas Mayerhofer, entre 1938 e 1940, quando também dirigiu as obras de estabilização da igreja. O museu abriga a coleção das imagens sacras do período missioneiro.


museu de São Miguel

esculturas no museu de São Miguel

V.2 - São João Batista

A redução de São João Batista foi fundada pelo padre jesuíta Antônio Sepp em 1697. O padre Sepp era detentos de várias habilidades artísticas que passavam pela música, pintura, arquitetura e escultura. Além disso o padre Sepp era géologo e minerador, tendo sido o pioneiro na fundição de ferro no sul do Brasil.

A redução de São João Batista fica no município de Entre-Ijuís a cerca de 40 km da Santo Ângelo.













V.3 - Santo Ângelo

Catedral de Santo Ângelo

A Redução de Santo Ângelo, fundada em 1706, foi a última redução construída pelo ciclo missioneiro. Destruída na guerra guaranítica, hoje é uma cidade de referência no sul do estado. A sua Igreja Matriz mostrada na foto, foi construída em cima das ruínas da igreja anterior, e seguindo o projeto da Igreja de São Miguel das Missões;

Detalhe: Todas as igrejas das Missões são voltadas para o norte, com exceção da de Santo Ângelo que foi construída voltada para o sul.

Museu de Santo Ângelo 

VI - A guerra guaranítica

Aos padres jesuítas foi cobrado o voto de obediência, e mesmo em desacordo e tendo tentado reverter a situação, eles foram obrigados a cumprir a ordem de mudança para o outro lado do rio. Apesar de no início, por respeito aos padres, os indígenas começassem a se movimentar, logo em São Nicolau começou o movimento de resistência e que se espalhou para todas as missões. Para os índios guaranis essa ordem soava incompreensível por vários motivos:

a) Eles tinham feitos acordos com o reino da Espanha, tinham lutado por seu Reino e não entediam como as suas terras agora tinham sido trocadas com os portugueses sem eles serem consultados.

b) Para os Guaranis as terras eram um bem inegociável e portanto não podia ter dono. Além do mais, se um dono existisse, seriam as pessoas que a ocupavam e dela sobreviviam, no caso eles.

c) Os Guaranis tinham na sua cultura, que quando a pessoa morria ela se transformava em terra. Portanto ali estavam os seus antepassados e eles não queriam se afastar deles.

d) Evangelizados pelos padres, eles argumentavam que, se Deus os chamou da selva para as Missões, o homem não podia os tirar dali. Deus não ia querer que eles saíssem.

estátua de Sepé Tiaraju
O trabalho de demarcação das fronteiras se iniciou em 1753. Os índios guaranis, tendo como um dos líderes Sepé Tiaraju, anunciam a sua decisão de não se retirar e impedem os trabalhos de demarcação das terras. Sepé Tiaraju justifica a resistencia ao tratado em nome do direito legítimo dos índios em permanecer nas suas terras. Ele comanda milhares de nativos até ser assassinado na Batalha de Caiboaté, em fevereiro de 1756. É dele a frase: "Esta terra tem dono".Em resposta ao movimento dos índios de impedirem a demarcação das fronteiras, Portugal e Espanha se unem e mandam tropas para enfrentar os nativos. 
A guerra se inicia em 1754, até que os dois exércitos, fortemente armados, se juntam na fronteira com o Uruguai e dizimam os batalhões indígenas em maio de 1756, pondo fim a resistência guarani.

VII - O Povo Guarany hoje na área das Missões

Já em contato com o mundo moderno, hoje eles não tem mais os vastos campos de onde tirar sua alimentação e sobrevivência. Colocados na civilização em que temos que disputar a nossa existência em função daquilo que podemos produzir, os Guaranis em nada lembram o povo glorioso que já foram. Vivem em uma área doada pelo governo do estado com aproximadamente 27 famílias e cerca de 200 habitantes, sendo a metade de crianças. Os Guaranis tem escola, pequeníssimas plantações, e praticam um artesanato precário, de onde tentam obter dinheiro na venda para as pessoas que visitam a Redução de Santo Ângelo. 

centro comunitário 

escola indígena
família com artesanato

forma de preparo do feijão
VIII - Informações Úteis

portal estrada das Missões
Como chegar: 
Para Visitar a área remanescente dos Sete Povos das Missões, deve-se ir a Santo Ângelo. Pode-se ir de carro, ônibus ou avião partindo de Porto Alégre. Os ônibus são várias vezes ao dia e o percurso é de aproximadamente 600 km. De avião temos um vôo diário da NHT saindo de Porto Alégre às 21:00 h e com uma duração de cerca de 2:30 h.




De Santo Angelo para São Miguel das Missões a distância é de 60 km com estrada asfaltada.

Vejam onde fica São Miguel das Missões

Hotéis: 
pousada 
São Miguel: Pousada das Missões (foto)

Ideal para quem quer visitar as Missões de São Miguel. Fica apenas a 100 metros da entrada das ruínas. É bom visitar as ruínas de dia, e voltar a noite para ver o show de "Som e Luzes". Imperdível. 

Em frente das ruínas há um pequeno restaurante, simples mas correto, onde pode-se comer um saboroso peixe frito "Piava" do rio Uruguai.

IX - Referências
Livros / Artigos:- Missões Jesuíticas - Guaranis, Síntese Histórica - Dom Estanislau Amadeu Krautz
- Wikipedia - Missões Jesuíticas, Trinta Povos, Sete povos, Os Guaranis, Guerra M´bororé
- Brasil - Uma História - Eduardo Bueno

Filme:
cena do filme 
- A Missão 

- Belíssimo filme inglês dirigido por Roland Joffé e escrito por Robert Bolt. Com Jeremy Iron no papel do Padre Jesuíta, Irmão Gabriel, e Robert de Niro vivendo como Rodrigo Mendonza, um mercador de escravos que se converte em religioso após cometer um crime contra seu irmão Felipe.
Fonte: http://historiacomgosto.blogspot.com.br

Referência: blog historiacomgosto.blogspot.com.br - Missões Jesuíticas

Um comentário:

  1. O post deveria fazer referência ao blog historiacomgosto.blogspot.com.br - Missões Jesuíticas que desenvolveu esse blog.

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