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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Incas drogavam vítimas de sacrifício

Análise bioquímica de múmias encontradas na Argentina mostra que vítimas de sacrifício tomavam coca e álcool

As três múmias incas encontradas perto do pomposo cume do vulcão Llullaillaco, na Argentina, foram tão bem preservadas que elas colocaram um rosto humano no antigo ritual de capacocha – que culminou com seus sacrifícios.

De acordo com a análise bioquímica, o cabelo da Donzela mostrou o que ela comeu e bebeu durante os dois últimos anos de sua vida. Os dados parecem confirmar relatos históricos de que algumas crianças selecionadas participavam de um ano de cerimônias sagradas antes de serem mortas. As evidências foram encontradas em seus cabelos, que revelaram mudanças na alimentação e consumo de álcool e coca. 

História bem preservada A Donzela e seus companheiros mais novos, encontrados em 1999, ficaram em um estado de preservação natural, devido às condições frias logo abaixo do cume da montanha, de 6.739 metros.

"Comparando com as múmias já conhecidas em todo o mundo, estas são as mais preservadas, na minha opinião”, disse o cientistas forense e especialista em arqueologia Andrew Wilson, da Universidade de Bradford (Reino Unido). "Ela parece ter acabado de adormecer".

Antes do dia final O cabelo cresce cerca de um centímetro por mês e a estrutura dele permanece inalterada depois disso. Essa condição permitiu que o cabelo da Donzela contivesse uma espécie de ‘linha do tempo’ que registrava a sua dieta, inclusive o consumo de substâncias como coca e álcool em forma de chicha, uma bebida fermentada feita a partir do milho.

Os registros capilares mostraram que ela parece ter sido escolhida para o sacrifício um ano antes da data de sua morte, explicou Wilson.

"Nós suspeitamos que a Donzela foi uma das ‘acllas’, as chamadas mulheres escolhidas, selecionadas na puberdade para viverem longe da sociedade familiar, sendo guiadas por sacerdotisas”, disse ele, lembrando que esta prática é descrita pelos espanhóis que escreveram crônicas com informações sobre os ritos que os incas aplicaram.

A Donzela tomou muita coca durante seu último ano de vida, mas o consumo de álcool só aumentou em suas últimas semanas de vida.

As outras crianças apresentaram níveis mais baixos de coca e álcool, talvez devido à menor importância delas no ritual ou pela diferença de idade e tamanho. Enquanto outros lugares de capacocha mostraram evidências de violência – como traumatismo craniano – essas crianças foram deixadas para morrer de forma pacífica.

Sacrifícios apoiados pelo Estado

O sistema de controle que levou essas crianças ao remoto cume de uma montanha, em uma altitude extrema, mostra claramente que o Estado apoiou o ritual, sugerem os autores do estudo. Isso pode ter acontecido como parte de uma expansão militar e política do império com base em Cuzco, que aconteceu um pouco antes da chegada dos espanhóis.

"O tipo de apoio logístico necessário para trabalhar nessa altitude é enorme - até mesmo hoje”, explicou Wilson. "E aqui estamos falando de evidências que apontam para o maior apoio possível, em nível imperial. Existem artefatos e roupas que são produtos refinados e de elite, efetivamente provenientes dos quatro cantos do Império Inca."

Evidências comprovam as primeiras Crônicas Espanholas Johan Reinhard, explorador residente da National Geographic, descobriu as múmias em 1999 com a colega Constanza Ceruti, da Universidade Católica de Salta (Argentina).

Reinhard, co-autor do novo estudo, disse que está particularmente interessado em entender essas descobertas comparando com as crônicas históricas das cerimônias, escritas pelos exploradores espanhóis. “Eles descreveram como essas cerimônias aconteceram, porém não eram relatos de primeira mão; nenhum espanhol viu pessoalmente ", disse Reinhard. "Eles dependiam do que os incas descreviam."

Hoje as múmias estão no Museu de Arqueologia de Alta Montaña (MAAM), em Salta, Argentina. A forma em que os restos mortais comprovam os registros históricos e arqueológicos é emocionante, acrescentou Wilson, mas também é arrepiante que as crianças ainda parecem‘tão humanas’, mesmo já mortas.

"Para mim, é quase como se eles fossem capazes de chegar até nós para nos contar as suas próprias histórias", disse ele. "O cabelo especialmente é uma coisa tão pessoal, e aqui ele é capaz de fornecer algumas evidências convincentes e nos contar uma história muito pessoal, mesmo depois de cinco séculos".