Ele já foi boi, já foi rei e agora é cavaleiro de laço firme e braço forte. Sem dúvida, um parágrafo curto de texto para jornal impresso seria pouco para adjetivar Jair Rodrigues. A carreira do cantor e compositor é registrada na vasta lista dos seus 43 discos. Hoje ele vem contar e cantar para o público santa-mariense, na praça Saldanha Marinho, às 21h.
O show faz parte da programação de Natal da prefeitura, é uma realização do Sesc-RS e é de graça. Em caso de chuva, o show será transferido para o Theatro Treze de Maio e os ingressos poderão ser retirados a partir das 15h, na casa de espetáculos.
Jair Rodrigues de Oliveira, nasceu em Igarapava (SP) em 1939 e foi criado no interior de São Paulo até se tornar crooner (cantor de boates) na noite de São Carlos. No início dos anos 60, foi para a capital São Paulo tentar o sucesso. Jair Rodrigues ficou mesmo conhecido depois de sua interpretação da música Disparada, no festival da TV Record, em 1966. A partir daí, o cantor é sucesso por onde anda. Seja no Brasil ou no exterior.
O Diário conversou com o músico por telefone, e ele contou como será o show e fala de sua relação com Elis Regina e com seus filhos, os cantores Jair Oliveira e Luciana Mello.
Diário de Santa Maria _ O show Festa para um Rei Negro é decorrente do CD e DVD especial em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Como que o senhor escolhe o repertório dentro de tantos grandes sucessos da carreira?
Jair Rodrigues _ Quando eu vou fazer um show, eu tento fazer um repertório variado. Então, ao mesmo tempo que você ouve eu cantar Disparada, daqui a pouco você ouve eu cantar Tristeza, Deixa Isso pra Lá, Boi da Cara Preta e Majestade o Sabiá. A gente canta tudo referente aos meus já 53 anos de carreira. Não são só as músicas do disco. O título do disco e desse show foi retirado do disco que eu gravei com esse nome que foi o samba enredo, composto pelo Zuzuca, da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro em 1971. Ele me emprestou esse nome e eu achei bonito e seguimos usando pro pessoas identificar mais fácil o nosso show (risos).
Diário _ Mas é difícil selecionar as músicas pro show? Quantas músicas o senhor costuma tocar nas apresentações?
Jair _ Meu irmão, é o seguinte: eu já começo com um pot-pourri com umas dez músicas. De cara (risos), por que eu aprendi uma coisa nesses anos todos de carreira: tem artistas que fala, fala, fala, toca uma música, duas e e aí sempre tem um no meio da plateia que grita: Canta, porra! (muitos risos). Então eu não deixo que isso aconteça e, também, quando o cara pensa em pedir uma música minha, eu já estou tocando.
Diário _ O senhor já conhece Santa Maria? Já tocou aqui?
Jair _ Santa Maria? Eu não sei a sua idade, mas a primeira vez que estive em Santa Maria você não era nascido. Em 1964 eu fiz meu primeiro sucesso (Deixa Isso pra Lá), a gente não vinha só pra fazer um show. A gente ficava aqui 15, 20 dias. Desembarcava em Porto Alegre e fazia diversos shows no interior. Santa Maria mesmo, eu acho que já vim umas... ah já perdi as contas de quantas vezes eu toquei por aí nos anos 60 e 70.
Diário _ Puxando pra outra relação sua com o Estado. Impossível não falar de sua amizade com a Elis Regina...
Jair _ Antes um pouquinho da Elis, eu tinha uma relação com o teu Rio Grande. Porque eu cantava na noite as músicas compostas pelo grandioso Lupicínio (Rodrigues), eu tinha uma grande amizade com o Nelson Gonçalves, com o Tito Madi, aquele compositor que fez "Rio Grande do Suuuuuull, vou me embora tananana", sabe?
Depois de 1964, cantando nos bares do Beco das Garrafas, que era o ponto de encontro dos músicos e artistas na época, no Rio, pra divulgar o Deixa Isso pra Lá, quando eu entrei na boate a Elis estava cantando lá. Não deu tempo de conversar. Daí, no início de 65, no programa Almoço com as Estrelas, da Lolita (Rodrigues), a gente se encontrou. Ela falou assim: "Aquele dia lá eu queria tanto te dizer que sou tua fã e gostaria que tu me desse um autógrafo". Aí eu falei: "Então empatou. Me dá um também, porque eu já estou ouvindo as tuas músicas, parabéns pelo grande festival que você ganhou com a (música) Arrastão. Dia 8 de abril de 1964 eu fui fazer um show e a Elis também estava, e nós nos juntamos e fizemos pot-pourri e gravamos três discos. No ano seguinte, nos chamaram na TV Record para fazer o programa O Fino da Bossa que também ficou três anos no ar. Hoje os pesquisadores dizem que foi o programa musical mais bem feito na história da TV no Brasil. E fora a amizade, sabe, nos tornamos grandes amigos, tinha gente que até falava que nós éramos namorados. Mas, não. Em cima do palco, a gente era tudo. E fora do palco a gente era tudo também, menos namorados (risos).
Diário _ Assistindo seus vídeos desde 1966, eu percebi que suas interpretações, como a de Disparada, até hoje, a gente percebe a mesma energia. Como o senhor se prepara para os shows e para as turnês?
Jair _ Eu nasci no interior paulista, quase na divisa com Minas Gerais, era menino de engenho. Brincava muito, corria pra lá e pra cá, tomava banho de rio pelado, jogava bola. Eu sempre gostei de estar fazendo minha ginástica. Eu corro, eu ando, eu faço sauna. Sabe? Eu gosto de mim. Hoje eu não perco mais meu tempo em noitadas, como era no tempo de crooner. Eu me cuido muito. A maioria dos cantores, com o passar do tempo, vai baixando o tom das músicas. Eu ultimamente tenho aumentado o tom. E como a banda já me conhece não tem problema.
Diário _ E a Deixa Isso pra Lá...
Jair _ Deixa Isso pra Lá e o hit da rapaziada que canta rap. O primeiro rap do mundo foi lançado aqui no Brasil com esse samba. Não pela linguagem, mas pelo jeito que a letra versa sobre o ritmo. Quem me disse isso foi o Herbert Viana em 1987 quando fomos nos apresentar na Suíça. "Cachorrão, você sabe que você é o pai do rap, né?", disse ele pra mim. Eu disse; "Eu sou o pai do Jairzinho e da Luciana, que diabo é isso? Pai do rap...". Aí ele me explicou toda essa coisa.
Diário _ Como foi essa criação do Jairzinho e da Luciana com a música? Eles acabaram se tornando músicos...
Jair _ Assim, quando os artistas levavam as canções lá em casa para eu ver, o Jairzinho era o primeiro a aprender. Ele tinha 5 anos. Aí nós fomos gravar uma música no estúdio e eu esqueci a letra. Gravamos com ele junto e foi um sucesso. Depois fomos cantar num festival na Itália e estourou. Quando voltamos para o Brasil chamaram ele para participar do Balão Mágico. A Luciana, a mesma coisa. Gravamos umas músicas juntos e ela acabou seguindo esse caminho. Meu maior orgulho é que eles tenham seguido esse caminho. Por que daí a gente não se distanciou nunca. Nem eles e nem da minha mulher que é mãe deles e sou casado até hoje. E hoje a gente faz, às vezes, uns shows com os três cantando juntos.
Diário _ E o show aqui em Santa Maria? O que o pessoal pode esperar?
Jair _ O show vai ser uma festa de verdade. Podem contar que eu vou sacudir a praça Saldanha Marinho. É o show do Rei Negro!